13 de novembro de 2006

O medo de nós próprios ...

( ... acabadinha de ver o Velvet Goldmine ... Obrigada pelo empréstimo, meu picotôr!)

. . .

Acredito que se um homem vivesse a sua vida plenamente, desse forma a cada sentimento, expressão a cada pensamento, realidade a cada sonho, acredito que o mundo beneficiaria de um novo impulso de energia tão intenso que esqueceríamos todas as doenças da época medieval e regressaríamos ao ideal helénico, possivelmente, até a algo mais depurado e mais rico do que o ideal helénico.

Mas o mais corajoso homem entre nós tem medo de si próprio.
A mutilação do selvagem sobrevive tragicamente na autonegação que nos corrompe a vida. Somos castigados pelas nossas renúncias. Cada impulso que tentamos estrangular germina no cérebro e envenena-nos. O corpo peca uma vez, e acaba com o pecado, porque a acção é um modo de expurgação. Nada mais permanece do que a lembrança de um prazer, ou o luxo de um remorso. A única maneira de nos livrarmos de uma tentação é cedermos-lhe. Se lhe resistirmos, a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu, com o desejo daquilo que as suas monstruosas leis tornaram monstruoso e ilegal. Já se disse que os grandes acontecimentos do mundo ocorrem no cérebro. É também no cérebro, e apenas neste, que ocorrem os grandes pecados do mundo.
Oscar Wilde, in 'O Retrato de Dorian Gray'
. . .

Não é por acaso, que 'O Retrato de Dorian Gray' é um dos meus livros favoritos, desde sempre ...
Não é por acaso que Oscar Wilde é também, desde sempre, um dos meus autores favoritos ...
Os contos mais profundos e trágicos, mas igualmente bonitos, inspiradores e tão didáticos sobre Amizade, sairam da cabeça deste Senhor.
O Príncipe Feliz
O Rouxinol e a Rosa
O Gigante Egoísta
... são só alguns que eu não me canso de ler. Aconselho imenso.
E com isto, desconfio que já programei a tarde de hoje ... solinho, café e livrinho ... numa esplanada por aí.

1 comentário:

APC disse...

Coincidência: http://camuflagens.blogspot.com/2006/11/kairos-iii.html
Deixo um abraço!