MTV 1

Hoje de manhã dei uma tesourada no cabelo.
Ia eu pela Travessa Henrique Cardoso a fora (uma transversal da Av. de Roma) a ritmo de passeio e, numa daquelas montras de vidros escuros, olhei para o meu reflexo ...
Miúda, tens o cabelo um bocado compridote ... Não te fazia mal nenhum se lhe desses uma aparadela.
Dez metros mais à frente, (qual sinal divino), passo por um cabeleireiro ... Dança de Cores. Nome bastante fofo. Para mim cabeleireiros que tenham nomes do género Cila, Tina, Jenny, Mena ou Nanda não sei porquê, fazem-me espécie.
(perdoe-me quem tenha algum destes diminutivos)
Em trinta minutos estava despachada. Também ... com um cabelo de rato como é o meu não é difícil bater o recorde.
Adoro quando percebem à primeira o que quero e, no final, ver que o resultado é bem melhor do que o esperado.
O que é certo é que saí dali a sentir-me gira, fresca e fofa ... bem disposta e muito acelerada por sinal. Não sei explicar ... cortar o cabelo tem um efeito ridículo em mim. Fico parvinha.

Pensam vocês ... Mas o que é que isso tem a ver com o nome do post (MTV 1, para quem não leu)?

Bem, viver muitos anos numa aldeia a 1,5 Km de uma cidade pacata fez com que herdasse o velho (e delicioso) hábito dos velhinhos de fazer questão em contar a vida toda para chegar ao busílis da questão. Todos os pormenores são importantes para se chegar a um lado que não tem nada a ver., mas pronto ... Eu também sou assim e gosto de o ser.

Vamos lá então ...
Cheguei a casa numa excitação doida e decidi montar o leitor de video que trouxe do Fundão nestas últimas curtíssimas folgas. O facto destas terem sido demasiado curtas para matar saudades de tudo o que queria, obrigou-me a trazer para Lisboa cartas e mensagens antigas, os poucos CDs que ainda lá tinha, todas (mas todas) as cassetes audio e todas as cassetes de video com as minhas gravações musicais de quando era uma miúda assim para o diferente ... i.e. parva.
Liguei os cabos e tal, escolhi a cassete etiquetada como MTV 1 para dar inicío à sessão e sentei-me no Divani com o comando na mão ...

Carrego no PLAY (►) ... Tenho treze, catorze anos outra vez. Caramba!, agarro a almofadinha-chouriço que tenho logo ali ao lado e deixo-me levar com as imagens e sons tão queridos que me transportam para momentos passados, recordações brutalmente doces ... saudades imperativas.
No início dou-me logo conta que metade do conteúdo original da cassete fora atropelado por um tributo/documentário sobre Nirvana e a morte do Kurt Cobain (fruto da minha profunda tristeza e obsessão na altura). Felizmente, ainda ficou muita coisa da gravação base.
Delirei ao relembrar o grafismo das caixas que anunciavam, nos primeiros e últimos dez segundos, a banda que se estava a ver/ouvir.
Começa o Past, Present & Future de Pearl Jam … deixo cair-me para o lado e aí sim, começa a viagem em flashes frenéticos …

ao lado da Marta Encarnação

Vejo-me a chegar a casa à hora do lanche depois da escola, de mandar a mochila para o lado e ligar a MTV enquanto preparava uma malguinha de Chocapic com leite a ferver e uma colher de mel. Inverno. Chegava à sala e sentava-me no sofá até alguém com mais responsabilidade do que eu me chamar à razão … O quê Sarinha, ainda aí estás sentada? … Estudar é mentira, não é? … Se os teus testes fossem sobre música, garantidamente, tirarias boas notas …
(passa um videoclip do Youth Against Fascism de Sonic Youth com o símbolo do 120 Minutes no canto superior esquerdo)

Inverno … Domingo … nove horas da noite. Estes dia e hora eram partilhados no sofá com a minha irmã. Era um momento religioso que foi conseguido com muita teimosia da nossa parte. O programa durava duas horas e acabava às onze da noite, no dia seguinte era dia de aulas e o pai Fernando não achava piada nenhuma, mas nós lá conseguiamos arrastar a hora de ir para o ninho. Seguravamos o comando com cuidado para carregarmos no REC (●) assim que desse algum video de que gostavamos, ou então gravavamos o início da música ... e se não gostassemos, a música seria votada a ser atropelada por outra.
Foi assim, e graças ao 120 Minutes que conheci bandas como Sonic Youth, Babes In Toyland, Mazzy Star, New Model Army, Suede, Pixies, Stone Roses, Joy Division, etc ... A emoção de poder conhecer os videos das músicas que adoravamos e que já conheciamos conseguia ser ainda maior.
Porra, que saudades!

ao lado do Gonçalo Branco

Da MTV 1 realço os videos que mais me surpreenderam (não me lembrava que os tinha gravado) e me fizeram sorrir com a maior das ternuras ... e saudade.

Drunken Butterfly - Sonic Youth
Garbage Man - Hole
Screamager - Therapy?
Liar - Henry Rollins
Sliver - Nirvana
Today - Smashing Pumpkins

Infelizmente, ficam de fora reportagens sobre a Lollapalooza de 1992, Nirvana e Pearl Jam que não consegui encontrar no YouTube.